Saúde Mental Não é Frescura: Desconstruindo Mitos e Combatendo o Estigma

Nos últimos anos, a saúde mental tem ganhado um espaço crescente nas discussões públicas, nas redes sociais e até mesmo nas buscas online. No entanto, apesar dessa maior visibilidade, o estigma e os mitos em torno das condições de saúde mental persistem, dificultando o acesso ao tratamento e o acolhimento de quem mais precisa. Frases como “Isso é frescura”, “Você consegue superar tudo isso se tentar” ou “Tente pensar em outra coisa” ainda são proferidas, minimizando o sofrimento e invalidando a experiência de milhões de pessoas. Este artigo busca desconstruir esses mitos, reforçar a seriedade das questões de saúde mental e destacar a importância de combater o estigma para promover um ambiente mais empático e propício à recuperação.

A Realidade da Saúde Mental: Mais do que uma Questão de Vontade

A saúde mental, assim como a saúde física, é um componente essencial do bem-estar geral de um indivíduo. Ela afeta a forma como pensamos, sentimos e agimos, influenciando nossas relações, nosso desempenho no trabalho e nossa capacidade de lidar com os desafios da vida. Transtornos como ansiedade, depressão, burnout e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) são condições médicas legítimas, com bases biológicas, psicológicas e sociais complexas, e não meras “fraquezas de caráter” ou falta de força de vontade [2].

Por exemplo, a ansiedade foi o termo de saúde mental mais pesquisado em 43 dos 64 países analisados em um levantamento do Healthnews, com base no Google Trends em 2024. No Brasil, termos como ansiedade, depressão, burnout e TDAH destacam-se nas buscas, evidenciando uma preocupação crescente da população em entender e lidar com essas condições . As dúvidas mais recorrentes envolvem sintomas, diagnósticos, possibilidades de tratamento e estratégias para lidar com crises emocionais, o que demonstra a busca ativa por informação e apoio.

Desconstruindo Mitos Comuns

O estigma em torno da saúde mental é alimentado por uma série de mitos que precisam ser desmantelados:

Mito 1: “É frescura” ou “É falta de fé”

Realidade: Transtornos mentais são condições médicas reais, diagnosticáveis e tratáveis, assim como diabetes ou hipertensão. Eles não são uma escolha, nem podem ser simplesmente “superados” com pensamento positivo ou oração. A complexidade do cérebro humano e as interações entre fatores genéticos, ambientais e psicológicos contribuem para o desenvolvimento dessas condições. Minimizar o sofrimento de alguém com um transtorno mental é desumano e impede que a pessoa busque a ajuda necessária.

Mito 2: “Pessoas com transtornos mentais são perigosas ou imprevisíveis”

Realidade: A vasta maioria das pessoas com transtornos mentais não é violenta. Na verdade, elas são mais propensas a serem vítimas de violência do que a cometê-la. A associação entre doença mental e violência é um estereótipo prejudicial perpetuado pela mídia e pela falta de informação, que contribui para o medo e a discriminação.

Mito 3: “Quem busca terapia é fraco”

Realidade: Buscar ajuda profissional, seja de um psicólogo ou psiquiatra, é um sinal de força e autoconsciência. Reconhecer que se precisa de apoio e dar o passo para procurá-lo demonstra coragem e um compromisso com o próprio bem-estar. A terapia oferece ferramentas e estratégias para lidar com desafios, desenvolver resiliência e promover o crescimento pessoal. A distinção entre psiquiatra e psicólogo é crucial: enquanto o psiquiatra é um médico que pode prescrever medicamentos, o psicólogo atua com psicoterapia, e ambos são fundamentais para um tratamento integral .

Mito 4: “Transtornos mentais são raros”

Realidade: Transtornos mentais são extremamente comuns. Estima-se que uma em cada quatro pessoas será afetada por um transtorno mental em algum momento da vida. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta a depressão como a principal causa de incapacidade em todo o mundo. A prevalência de condições como ansiedade, depressão e TDAH no Brasil, conforme as buscas no Google, reforça essa realidade .

O Impacto Devastador do Estigma

O estigma em saúde mental tem consequências profundas e negativas. Ele leva à discriminação, ao isolamento social e à relutância em buscar tratamento. Pessoas que internalizam o estigma podem sentir vergonha e culpa, o que agrava seu sofrimento e dificulta a recuperação. No ambiente de trabalho, o estigma pode resultar em preconceito, perda de oportunidades e até demissão, como observado nas discussões sobre burnout [2].

Combater o estigma não é apenas uma questão de empatia, mas de saúde pública. Quando o estigma diminui, mais pessoas se sentem à vontade para procurar ajuda, o que leva a diagnósticos precoces e tratamentos mais eficazes. Isso, por sua vez, resulta em vidas mais saudáveis, produtivas e felizes, e em uma sociedade mais inclusiva.

Como Podemos Combater o Estigma?

Combater o estigma exige um esforço coletivo e contínuo. Algumas ações fundamentais incluem:

1.Educação e Informação Confiável: Buscar e compartilhar informações precisas sobre saúde mental ajuda a desmistificar as condições e a combater preconceitos. Priorizar fontes seguras e profissionais especializados é essencial para evitar a desinformação [2].

2.Falar Abertamente: Conversar sobre saúde mental com amigos, familiares e colegas de trabalho ajuda a normalizar o tema e a criar um ambiente onde as pessoas se sintam seguras para compartilhar suas experiências. Reforçar que buscar ajuda é sinal de força, não de fraqueza, é um passo crucial [2].

3.Incentivar a Igualdade: Tratar doenças físicas e mentais com a mesma seriedade é fundamental. Ninguém é culpado por ter uma doença, seja ela física ou mental. Quando mostramos que a saúde é uma só integrando corpo e mente , as falas estigmatizantes perdem força .

4.Apoiar Campanhas e Iniciativas: Participar e divulgar campanhas de conscientização, como o Janeiro Branco, o Setembro Amarelo contribui para a construção de uma cultura de cuidado e acolhimento.

5.Oferecer Escuta e Acolhimento: Se alguém decidir confiar em você e compartilhar seu sofrimento, escute com atenção, sem julgar ou interromper. A empatia e a disponibilidade podem fazer uma enorme diferença .

Conclusão

A saúde mental não é frescura. É uma parte vital da nossa existência que impacta diretamente nossa qualidade de vida. Desconstruir os mitos e combater o estigma é um imperativo social que beneficia a todos. Ao promover a educação, a abertura e a empatia, podemos criar uma sociedade onde o cuidado com a mente seja tão valorizado quanto o cuidado com o corpo, e onde todos se sintam à vontade para buscar a ajuda de que precisam. Cuidar da mente é cuidar da vida como um todo. Sua mente agradece.