Conciliar a vida profissional com a parentalidade nunca foi uma tarefa fácil. No universo acadêmico, onde as demandas por produtividade, publicações e dedicação integral são constantes, esse desafio se torna ainda maior. Uma pesquisa recente publicada pela Nature analisou como a paternidade e a maternidade afetam a saúde mental na comunidade acadêmica, destacando vulnerabilidades e grupos de maior risco emocional.
O estudo, realizado com pesquisadores e professores brasileiros, revelou um cenário preocupante: pais e mães acadêmicos enfrentam taxas mais altas de exaustão emocional, ansiedade e sintomas depressivos, especialmente quando não contam com redes de apoio sólidas ou políticas institucionais que conciliem trabalho e família.
O peso invisível da carreira acadêmica
A vida acadêmica é marcada por prazos apertados, cobrança por resultados e uma cultura de “trabalhar sem parar”. A ideia de que o sucesso depende de dedicação total acaba transformando o ambiente em um espaço de alta pressão, e isso tem um impacto direto sobre a saúde mental.
Professores e pesquisadores precisam lidar com múltiplas funções: dar aulas, orientar alunos, publicar artigos, participar de bancas, captar recursos e ainda manter uma vida pessoal equilibrada. Quando a parentalidade entra em cena, esse equilíbrio se torna ainda mais frágil.
A pesquisa mostra que pais acadêmicos relatam sentir culpa constante, tanto por não estarem presentes o suficiente na vida dos filhos quanto por acreditarem que estão “produzindo menos” no trabalho. Esse sentimento de insuficiência dupla, profissional e familiar, tem se tornado uma das principais fontes de sofrimento emocional nesse grupo.
As diferenças entre pais e mães
O estudo da Nature também aponta diferenças importantes entre homens e mulheres. As mães acadêmicas são, de longe, as mais afetadas. Elas relatam níveis mais altos de ansiedade, cansaço e dificuldade de progressão na carreira. Isso ocorre porque, mesmo em ambientes de alta qualificação, a divisão de tarefas domésticas e de cuidado com os filhos ainda é desigual.
Muitas mulheres relatam ter pausado projetos de pesquisa, recusado viagens ou adiado publicações após a maternidade, decisões que impactam diretamente a visibilidade e o avanço profissional. Já entre os pais, os sintomas de estresse e depressão surgem frequentemente por sentirem-se distantes da família ou por carregarem o peso financeiro e emocional de prover estabilidade em um ambiente de trabalho incerto.
Em ambos os casos, a pressão por produtividade e a falta de apoio institucional agravam o quadro de sofrimento mental.
A importância do apoio e da empatia institucional
O estudo reforça que políticas de conciliação entre vida profissional e familiar são essenciais para reduzir o sofrimento psíquico entre acadêmicos. Universidades que oferecem licenças parentais adequadas, horários flexíveis, creches universitárias e programas de saúde mental tendem a ter profissionais mais motivados, saudáveis e produtivos.
Além disso, é fundamental que o ambiente acadêmico incentive uma cultura de empatia — onde falar sobre cansaço, ansiedade ou depressão não seja visto como fraqueza, mas como parte da experiência humana.
Iniciativas de acolhimento psicológico, mentorias e grupos de apoio entre pais e mães dentro das instituições são ferramentas eficazes para quebrar o isolamento e fortalecer vínculos de solidariedade.
O caminho para o equilíbrio
Cuidar da saúde mental de quem forma e pesquisa é cuidar do futuro da educação e da ciência. A paternidade e a maternidade não deveriam ser vistas como obstáculos à carreira acadêmica, mas como experiências que enriquecem a visão de mundo e a sensibilidade humana, qualidades indispensáveis a quem se dedica ao conhecimento.
Reconhecer que ser pai ou mãe é também um desafio emocional é o primeiro passo para criar espaços mais humanos, equilibrados e saudáveis dentro da academia.
Afinal, o verdadeiro progresso intelectual nasce de mentes que pensam, mas também sentem.
