“Será que esta tristeza é depressão?” Essa é uma pergunta que muitas pessoas se fazem em silêncio, com medo e vergonha de buscar respostas. Em um mundo cada vez mais acelerado, com ansiedade, dificuldades financeiras e uma vida mediada por telas, as questões de saúde mental se tornam cada vez mais presentes. É neste cenário que o Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio, ganha uma importância ainda maior, destacando a necessidade de procurar ajuda especializada e quebrar as barreiras que impedem o tratamento.
A depressão é uma doença séria e, infelizmente, ainda cercada de estigmas. Muitas pessoas associam a condição à fraqueza, falta de vontade ou até mesmo ingratidão, o que gera um ciclo vicioso de culpa e isolamento. O medo do julgamento no trabalho, entre amigos e até mesmo na família, impede que muitos busquem o diagnóstico e o tratamento adequados. Esse silêncio, no entanto, agrava o sofrimento e pode levar a consequências devastadoras.
A Importância Vital do Setembro Amarelo
Criada no Brasil em 2015 pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), a campanha do Setembro Amarelo tem um objetivo claro: trazer o diálogo sobre o suicídio para a luz do dia. Durante anos, o tema foi um tabu, evitado pela mídia e pela sociedade por medo de um suposto “efeito contágio”. Hoje, entende-se que o silêncio é o verdadeiro perigo. Falar sobre o assunto de forma responsável e empática é a melhor maneira de prevenir.
O Setembro Amarelo funciona como um megafone para uma causa que precisa de atenção o ano inteiro. A cor amarela, que ilumina prédios, monumentos e laços em roupas, serve como um lembrete visual constante de que a vida importa e que a prevenção é possível. A campanha incentiva a sociedade a reconhecer os sinais de alerta, a oferecer ajuda e, acima de tudo, a divulgar que existem recursos disponíveis para quem está em sofrimento. É um convite coletivo para que todos aprendam a agir, seja oferecendo uma escuta sem julgamentos ou indicando serviços de apoio como o CVV, que oferece suporte emocional gratuito 24 horas por dia pelo telefone 188.
Os Números Alarmantes e a Realidade por Trás do Estigma
Dados da Associação Brasileira de Psiquiatria revelam que, no Brasil, cerca de 38 pessoas tiram a própria vida por dia, e quase 100% desses casos estão ligados a transtornos mentais não diagnosticados ou tratados de forma incorreta. Em Juiz de Fora, por exemplo, foram registrados 199 suicídios e 607 tentativas desde 2020, um reflexo de um problema de saúde pública que precisa ser enfrentado com seriedade e empatia.
O relato de uma advogada de 37 anos à Tribuna de Minas ilustra perfeitamente essa realidade: “Eu não conversava com ninguém por medo e vergonha. Medo de ser repreendida (…) e vergonha, porque acreditava que eu não tinha o direito de ter depressão”. Sua fala demonstra como o estigma pode ser internalizado, fazendo com que a pessoa se sinta culpada por seu próprio sofrimento.
Como Combater o Estigma e Promover a Saúde Mental?
A luta contra o estigma da depressão é uma responsabilidade de todos. A informação é a ferramenta mais poderosa que temos. É fundamental entender que a depressão é uma doença como qualquer outra, que possui tratamento eficaz, incluindo terapia e, quando necessário, medicação.
Aqui estão algumas estratégias que podemos adotar para criar um ambiente mais acolhedor:
- Educar-se e Falar Abertamente: Buscar conhecimento sobre saúde mental nos ajuda a desmistificar crenças erradas. Falar sobre o assunto, seja compartilhando experiências próprias (se confortável) ou simplesmente mostrando-se aberto ao diálogo, ajuda a quebrar o tabu.
- Oferecer Escuta sem Julgamento: Frases como “é falta de Deus”, “você precisa se esforçar mais” ou “isso é fraqueza” são extremamente prejudiciais. Em vez disso, ofereça um ombro amigo e incentive a busca por ajuda profissional. Acolher e ouvir com empatia pode salvar vidas.
- Promover a Conscientização em Todos os Espaços: Empresas, escolas e a mídia têm um papel crucial na desconstrução de estereótipos. Campanhas de conscientização e programas educacionais são essenciais para disseminar informações corretas e promover uma cultura de cuidado.
- Normalizar o Cuidado com a Saúde Mental: Assim como cuidamos da saúde do corpo, precisamos cuidar da mente. Ir ao psicólogo ou psiquiatra deveria ser visto com a mesma naturalidade de ir a qualquer outro médico.
O Setembro Amarelo é mais do que uma campanha; é um movimento pela vida. É um lembrete de que a recuperação é possível e que ninguém precisa enfrentar a depressão sozinho. Se você ou alguém que você conhece está passando por um momento difícil, não hesite em procurar ajuda. Quebrar o silêncio é o primeiro passo para a cura.
